III FÓRUM - CARTA ABERTA

Carta Aberta do III Fórum de Educação de Brasileiros no Japão Outubro de 2014
  

Sob o título de "Onde estamos e para onde queremos estar", o I Fórum realizado em Nagóia nos dias 9 e 10 de fevereiro de 2013 reorganizou e propôs questionamentos educacionais importantes, reiniciando, de certa maneira, o debate público de grande escala desde os simpósios da década de 90. A presença do prof. Francisco Aparecido Cordão, Conselheiro da Câmara de Educação Básica, foi de suma importância: sua presença garantiu a discussão de pontos importantes que formam a nova regulamentação para funcionamento e estabelecimento de escolas brasileiras no exterior, tendo o Japão como uma espécie de projeto-piloto dada a quantidade de escolas existentes.

O II Fórum realizado em Hamamatsu no dia 8 de dezembro de 2013 foi enriquecido com a participação dos alunos de graduação do curso de Pedagogia da parceria entre as universidades Federal do Mato Grosso (UFMT) e Tokai University, além de estudantes de graduação e pós-graduação de diversos cursos à distância promovidos por outras instituições de nível superior já atuantes no Japão. A principal apresentação ficou por conta da profa. Kátia Morosov Alonso, cuja palestra refletiu o título desta edição: "A inserção social sob a perspectiva da diferença".

O III Fórum realizado em Nagóia nos dias 11 e 12 de outubro de 2014 continuou os debates anteriores e abriu espaço para que iniciativas fossem compartilhadas. Se de um lado a escola japonesa é desafiada a se interculturalizar, aceitando as diferenças sócio-culturais dos estrangeiros que freqüentam suas salas de aula e questionando um modelo educacional instaurado a partir do pós-guerra, a escola brasileira tem pela frente um novo paradigma, estabelecido pela resolução que entrou em vigor em 2013.

Esta nova regulamentação trazida no I Fórum pelo Professor Francisco Aparecido Cordão não estabelece, apenas, novos parâmetros (entre eles a obrigatoriedade do ensino de língua japonesa e cultura na grade curricular), mas propõe um novo Projeto PolíticoPedagógico para as escolas brasileiras no Japão, revendo seu papel tradicional cujo foco é preparar alunos para retornar ao Brasil.

Complementando, há ainda um outro desafio a ser considerado: é o novo PNE (Plano Nacional de Educação) transformado em lei em junho de 2014 com vigência até 2024, que estabelece as metas e as estratégias para a educação nacional para o próximo decênio. O desafio é entender a amplitude e as implicações do novo PNE para as escolas brasileiras no exterior, tornando necessário aprofundar as reflexões para além do III Fórum, o que enseja a realização de um novo encontro, agora, com a participação de um legislador educacional, especialmente convidado. Portanto, fica a sugestão ao grupo de educadores no Japão, que se inicie, desde já, um movimento no sentido de viabilizar o próximo Fórum de Educação, organizando eventos regionais para formular projetos que venham ao encontro das necessidades locais.

Uma outra novidade do III Fórum foi a inserção da mesa sobre EAD (Ensino à Distância), que busca discutir com alunos e interessados possibilidades de requalificação profissional durante a estada no Japão.

Pelo lado do governo japonês, no momento faz-se presente a discussão sobre o reconhecimento das escolas japonesas alternativas que vêm funcionando como Free School que atendem as crianças e jovens evadidos que não se adaptaram as condições das escolas oficiais japonesas. Nessa discussão, por vários motivos, não participam as escolas estrangeiras. Reivindicar a inserção de escolas brasileiras e outras estrangeiras nesse debate poderá ser o início de uma nova etapa do movimento das escolas estrangeiras no Japão.

Sendo assim, acredita-se que este fórum tenha sua importância e possa trazer contribuições, ainda que pequenas. Passados 25 anos desde a reforma na lei migratória de 1990, podemos notar que as mudanças na área da educação levam tempo para se efetivar – de forma vagarosa, mas contínua.

É pensando nesta continuidade que o III Fórum teve como objetivo maior pensar o futuro através da análise das ações presentes.

Propostas

a) Propostas para o governo brasileiro

- Contemplar escolas brasileiras no exterior no próximo PNE;
- Implantação do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) no Japão;

b) Propostas para o governo japonês

- Discutir a possibilidade das escolas brasileiras se tornarem “Free School”;
- Tornar obrigatória a educação de crianças e jovens estrangeiros;
- Que sejam disponibilizadas nas escolas japonesas oportunidades de convívio intercultural entre estudantes estrangeiros/as e japoneses/as, em um espaço onde haja promoção do entendimento e respeito das diferenças e diversidades culturais. O espaço pode tomar a forma de atividade extra-curricular, e deve envolver a cultura de todos/as os/as estudantes participantes na escola, pois acredita-se com isso não apenas diminuir a distância entre alunos/as de origens distintas, combatendo o bullying e a exclusão no espaço escolar, como também contribuir para a internacionalização da educação japonesa, tornando-a mais receptiva para alunos/as migrantes.

c) Plano de ação para a comunidade

- Discussão de um Projeto Político-Pedagógico comum a todas as escolas brasileiras no Japão, sendo flexível o suficiente para que cada uma dê conta de atender suas especificidades locais;
- A NPO AEBJ (Associação das Escolas Brasileiras no Japão), em plenária, se comprometeu em discutir a pauta sobre o “Free School” com todas as escolas brasileiras existentes no Japão;
- Encontros regionais para se discutir temas e propor pautas relacionadas à educação;
- Proposta de curso para atualizar professores que atuam dentro de escolas brasileiras;
- Confecção de material didático que esteja atento à realidade vivida no Japão, refletindo sobre sua as condições sociais do aluno, família, escola e comunidades estrangeiras;
- Proposta de currículo bilíngue;
- Discutir direitos trabalhistas de professores com mantenedores;
- Jogos esportivos entre escolas brasileiras e, quem sabe, japonesas;
- Criação de uma Associação de Pais e de uma Associação de Professores;
- Estabelecer uma rede de contatos entre jovens (a princípio alunos do ensino médio, universitários e graduados) para troca de ideias, contatos e encontros, visando propor soluções concretas para suas necessidades e aspirações;
- Realização do IV Fórum Educação Brasil-Japão.


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